Historiadora fala sobre o Dia da Conquista do Voto Feminino no Brasil
Lóren Graziela reforça que a conquista do voto abriu caminho para outras mudanças sociais e políticas.
O direito ao voto feminino no Brasil foi conquistado em 1932, mas a luta das mulheres por maior participação nos espaços de poder continua. Para entender os desafios históricos e os avanços conquistados desde então, conversamos com a historiadora Lóren Graziela, que destaca a complexidade dessa jornada.
"Com todas as reflexões históricas já realizadas ao longo da minha trajetória profissional e acadêmica, atrevo-me a iniciar destacando o peso que, em uma sociedade de princípios morais predominantemente judaico-cristãos, nós mulheres carregamos como filhas de Eva", afirma Lóren. "Nós mulheres brasileiras 'herdamos' da cultura europeia a culpa pelo pecado original. Sempre nos foi imposto o silêncio, a subserviência e a reprodução. Sempre aprendemos a esconder nossos corpos, fonte do pecado e da culpa”.
Segundo a historiadora, um dos maiores desafios enfrentados pelas mulheres na busca pelo direito ao voto foi o silenciamento histórico imposto a elas. "Na vida privada, nos era imposta a obediência, e na vida pública, o silêncio. Mulheres eram consideradas inaptas ao voto", explica. "Os movimentos revolucionários brasileiros ao longo de nossa história sempre se inspiraram muito na Europa, berço do Iluminismo. Sendo assim, o movimento sufragista francês refletiu em nossas terras por meio do movimento feminista”.
Machismo e representação política
A conquista do voto representou um marco importante, mas não significou o fim dos desafios. Mesmo com o avanço dos direitos políticos femininos, a representação das mulheres na política ainda é baixa. Para Lóren, isso se deve a um conjunto de fatores, incluindo o machismo estrutural que se manifesta de formas sutis, mas violentas. "Somos constantemente diminuídas por meio de piadinhas e comentários como 'desequilibrada', 'mal amada' ou 'louca'. Isso ainda nos amedronta", ressalta. "O enfrentamento do machismo é doloroso e desgastante. É realidade também encontrarmos mulheres que reproduzem de maneira violenta o machismo, boicotando outras mulheres. Isso enfraquece nossa ocupação em espaços de poder”.
Mesmo diante dos obstáculos, a historiadora reforça que a conquista do voto abriu caminho para outras mudanças sociais e políticas. Desde então, mulheres ganharam maior acesso à educação, ao mercado de trabalho e a cargos políticos. No entanto, a sub-representação ainda é um desafio. "A união entre as mulheres é necessária, e atitudes de sororidade nos levarão a todos os espaços", destaca.
O futuro da mobilização feminina
Quando questionada se estamos vivendo um novo momento de mobilização feminina semelhante ao movimento sufragista, Lóren acredita que sim. "A luta das pioneiras pelo direito ao voto guarda semelhanças com o atual esforço das mulheres por maior representação política", afirma. "Somos perfeitamente aptas a opinar na vida pública, e a conquista do voto feminino representa nosso direito de fala na vida pública”.
A história mostra que o voto feminino foi apenas o primeiro passo de uma caminhada longa e desafiadora. A luta por maior participação das mulheres na política continua, e fortalecer esse movimento é essencial para a construção de uma sociedade mais igualitária.
Redação Elas em Pauta