Katiane Gomes: os desafios da maternidade e da deficiência visual
"Não é fácil viver com deficiência, mas lutar contra ela só torna tudo mais difícil".
Katiane Gomes da Silva, 34 anos, nasceu prematura, com apenas seis meses de gestação e pesando 1,1 kg. Desde o início, enfrentou desafios significativos. Devido ao peso extremamente baixo e uma má formação rara no olho esquerdo, ela vive com deficiência visual.
Apesar disso, Katiane cresceu sem entender completamente sua condição. "Acreditava que todos enxergavam o mundo como eu", relata. Durante a infância e adolescência, marcada pela falta de informação, enfrentou bullying e rejeição, agravados pela aparência "fora do padrão", como ela descreve. Usar óculos de grau elevado era motivo de olhares de estranhamento, e o medo de revelar sua deficiência visual fez com que ela escondesse essa realidade, até de si mesma.
Foi apenas ao atingir seu limite que Katiane decidiu assumir sua condição. "Gritei para todos ouvirem que eu era uma mulher com deficiência visual, com limitações, sim, mas capaz de abraçar o mundo como qualquer pessoa". Esse momento foi decisivo para que ela passasse a viver em harmonia com sua deficiência, aceitando-a como uma característica, não como uma definição de quem é.
A vida como empreendedora
Com o passar dos anos, Katiane precisou se adaptar. Quando sua visão piorou, deixou de lado o crochê, que fazia para obter renda. Após um período difícil, encontrou forças para recomeçar e hoje empreende com a produção de mini cake donuts. "Não é fácil viver com deficiência, mas lutar contra ela só torna tudo mais difícil".
Casamento e maternidade: desafios e alegrias
Katiane é casada há quase 15 anos. Seu marido, a quem ela chama de "porto seguro", participa ativamente da rotina. "Ele me apoia em tudo, desde ir comigo ao médico até ajudar nas tarefas diárias, como limpar um frango, que já virou tarefa fixa dele", brinca.
A maior alegria do casamento foi realizar o sonho de ser mãe. A gravidez foi uma surpresa, trouxe medos, mas também muita felicidade. "Curti cada momento e me sentia a grávida mais linda”. No entanto, os primeiros dias após o nascimento da filha, Alice, foram desafiadores. "Eu chorava porque não conseguia ver o umbigo dela para cuidar. Pedi a Deus para cuidar de mim para eu poder cuidar dela”.
Hoje, adaptada à rotina, Katiane participa ativamente da criação de Alice, ajudando nas lições escolares e brincadeiras. Ela acredita que sua deficiência ensina à filha lições valiosas de empatia, resiliência e inclusão.
Barreiras de acessibilidade e preconceito
Apesar de sua independência, Katiane enfrenta muitas dificuldades. "A acessibilidade em lugares como escolas, mercados e hospitais ainda é precária. Não há piso tátil, rampas ou mesmo sinalização sonora adequada”. Em suas idas ao banco, por exemplo, ela se depara com painéis que emitem apenas sinais visuais.
Além disso, o preconceito também é uma barreira. "A dúvida das pessoas sobre minha capacidade de cuidar da minha filha sempre vinha acompanhada de piadinhas”.
Ferramentas e redes de apoio
Katiane utiliza tecnologias como leitores de tela e aplicativos de leitura de rótulos para facilitar o dia a dia. Ela também faz reabilitação visual no CER 3, em Pará de Minas. "Só peço ajuda quando realmente preciso, porque quem me conhece sabe o quanto sou independente”.
Uma mensagem de força
Para Katiane, aceitar sua deficiência foi a chave para uma vida mais plena. "Não lute contra sua deficiência. Aceitá-la não é fácil, mas é libertador. Somos todos capazes, só precisamos de inclusão e acessibilidade para viver plenamente”.
Redação Elas em Pauta