Maria da Glória: uma jornada de fé e coragem contra o câncer
"Mesmo nos momentos mais difíceis, Deus está ali, cuidando da gente".
Maria da Glória de Lima Paula, carinhosamente conhecida como "irmã" Glória, da Primeira Igreja Batista de Pará de Minas, aos 63 anos, já enfrentou diversas batalhas em sua vida, e muitas delas tiveram o poder de transformá-la profundamente. Professora aposentada, mãe de Letícia (40), e Maísa, (36), ambas diagnosticadas com deficiência intelectual severa e autismo, Glória sempre foi uma mulher ativa e independente.
Contudo, os desafios da vida foram se acumulando e, desde 2012, ela vive a árdua batalha contra o câncer, que, até agora, já se manifestou quatro vezes. Casada com Ernando José de Paula, de 70 anos, há 22 anos, Glória fala com gratidão sobre o marido, que, segundo ela, “é o suporte” para ela e suas filhas.
O primeiro embate com a doença veio em 2012, quando Glória foi diagnosticada com câncer de endométrio. O diagnóstico foi um choque para ela, que nunca havia enfrentado uma enfermidade tão grave. "Foi como se o mundo desabasse. Naquele momento, a gente estava construindo nossa casa e eu olhava para as paredes ainda inacabadas, com medo de não conseguir viver ali com minha família, de não curtir o que estávamos construindo. Deu muito medo", lembra.
Apesar do susto, Glória passou por uma cirurgia curativa, onde foram removidos o útero, as trompas e os ovários. “Foi tudo retirado, e a cirurgia acabou sendo curativa porque não houve metástase. O médico mandou o material para a biópsia, e, graças a Deus, não precisei de quimioterapia nem de radioterapia naquele momento”, conta. Após a cirurgia, Glória continuou sob acompanhamento médico rigoroso. "Fiquei três anos indo ao médico a cada seis meses, depois uma vez por ano. A cada consulta, o medo voltava, mas eu sabia que precisava continuar firme", acrescenta.
Novos diagnósticos e novas batalhas
Nove anos depois, o câncer voltou, desta vez na mama esquerda. "Esse segundo diagnóstico foi muito difícil. Fiz quimioterapia vermelha, que foi terrível. Foram apenas quatro sessões, mas foi pior do que os seis meses de quimioterapia branca que fiz mais tarde. Os efeitos colaterais são indescritíveis. Não desejo isso para ninguém", relata com emoção. A recuperação foi lenta, e Glória ainda se recuperava quando, em menos de dois anos, o câncer reapareceu, desta vez na mama direita. "Foi outro baque, porque a gente tenta se manter positiva, mas é como se o corpo estivesse dizendo que a luta ainda não acabou", desabafa.
Mas não foi só isso. Agora, em 2024, Glória descobriu um linfoma maligno na axila direita. "Dessa vez, foi um linfonodo debaixo do braço que apareceu. Fiz 15 radioterapias e oito ciclos de quimioterapia oral para tratar, e aqui estou, mais uma vez na luta", afirma com coragem. Embora o caminho seja cheio de altos e baixos, Glória mantém a fé inabalável. “Eu acredito que tudo tem um propósito. A gente passa por essas tribulações, mas eu sei que Deus está cuidando de mim o tempo todo. É Ele quem me sustenta”, declara com convicção.
Histórico familiar
Ao longo dos anos, Glória também descobriu que há uma questão genética envolvida em seus diagnósticos. Após a confirmação da mutação do gene BRCA1, ela entendeu que o câncer de mama poderia ter origem hereditária. "Minha irmã teve câncer de mama três vezes, e meu pai faleceu de câncer no esôfago. Além disso, outros familiares, como tios e primos, também enfrentaram a doença. Com essa confirmação genética, os médicos pediram que minhas filhas façam exames de rastreamento, porque é algo que pode se manifestar nelas também", explica.
Conciliar os tratamentos com o cuidado das filhas, que demandam atenção constante, foi um dos maiores desafios que Glória enfrentou. “O que mais me preocupava durante o tratamento era como eu ia manter a casa funcionando e cuidar das meninas, porque elas precisam de mim, e não só fisicamente. Eu podia estar detonada, mas tinha que fingir que estava tudo bem para elas não perceberem o quanto eu estava mal. Mas elas sentem tudo, percebem até pelo meu olhar como eu estou”, conta. Mas, apesar de todo o esforço, Glória admite que também aprendeu a pedir ajuda. "O Ernando, meu marido, é um verdadeiro socorro. Ele é muito calmo e as meninas confiam nele para tudo. Elas não têm a figura paterna presente, e ele preencheu esse vazio. Ele as leva ao médico, ao dentista, e elas se sentem seguras com ele", diz com gratidão.
Quando perguntada sobre o impacto da doença em sua vida, Glória reflete sobre como isso mudou sua perspectiva. “Quando você recebe o diagnóstico, especialmente o primeiro, o choque é muito grande. Com o tempo, aprendi a lidar melhor com a situação, mas a gente nunca está totalmente preparada para isso. A gente só segue em frente”, afirma. Mesmo assim, ela se manteve firme em sua fé. "Eu sempre fui muito independente, cuidava de tudo sozinha, mas hoje entendo que é o Senhor que me sustenta. Eu e Deus, sempre foi assim. Não sou muito de pedir colo, prefiro ser o colo dos outros. Acho que isso vem de ter sido a filha mais velha, sempre cuidando dos outros desde cedo", revela.
Fé no cuidado de Deus
Glória também destaca o quanto as pessoas ao seu redor se surpreendem com sua força. “Às vezes, as pessoas ficam encabuladas com o tanto que Deus tem me sustentado. Aquele que cuida da gente não dorme! Ele está sempre ali, nos mínimos detalhes. Desde a vaga no hospital até o médico que aparece no momento certo, sinto que Ele cuida de tudo”, diz com confiança.
Olhando para o futuro, Maria da Glória mantém a esperança na cura, mas, acima de tudo, busca paz para enfrentar o que vier. “Espero que, se for da vontade de Deus, eu alcance a cura completa. Mas se não for, que eu tenha paz para continuar o tratamento. E se Ele decidir me levar, que eu vá em paz, na certeza de que passarei a Eternidade com Ele. Eu quero ter paz, inclusive, em relação às minhas filhas, que são o que mais me preocupa", conclui.
Para todas as pessoas que enfrentam doenças graves, como o câncer, Glória deixa um conselho: "Tenham fé e coragem. Mesmo nos momentos mais difíceis, Deus está ali, cuidando da gente. E a medicina também tem muitos recursos hoje. Ainda não há uma cura total, mas há muitas formas de tratamento. E nunca, nunca desistam, porque com Ele, é possível vencer".
Redação Elas em Pauta